Quando em julho de 1957 entrei entre as Filhas de São Paulo, a Congregação era florescente de vocações e em plena expansão missionária.
A comunidade romana,
naquele tempo,
com mais de 400
membros, os seus
edifícios e, ao centro, o imponente santuário
“Rainha dos Apóstolos, parecia-me uma verdadeira
fortaleza.
As repartições do apostolado
pulsavam de vida e de fervor. Era belo
encontrar-nos e rezar juntas no santuário.
Sobre todos pairava a carismática figura do
Fundador, e ao seu lado, Mestra Tecla, de
quem ele havia dito:
“Tereis outras Primeiras
Mestras, mas apenas ela é a Mãe do
Instituto”.
Não era fácil encontrar pessoalmente a
Primeira Mestra. Com as filhas espalhadas
por todo o mundo, ela seguidamente se ausentava
de Roma para visitar as comunidades
paulinas na Itália e no exterior. Quando
estava na sede, fazia-nos conferência no
salão. Não tinha o dom da eloquência, mas
com a carga interior que a a animava, sua
palavra ia direto ao coração. Eu, tímida e reservada
como era, não ousava me aproximar
da Primeira Mestra para falar-lhe daquilo
que eu tinha no coração. Contentava-me
com seus sorrisos maternos e com suas palavras
encorajadoras, quando a encontrava
nas alamedas do jardim.
Depois da profissão religiosa, fui destinada
à comunidade de Salerno. Estava ali
havia algumas semanas, quando a superiora
da casa nos comunicou a visita da Primeira
Mestra. Pouco depois de sua chegada,
Mestra Tecla mandou me chamar e com
um olhar pleno de afeto e de bondade disse
que tinha ido a Salerno justamente por
minha causa, para pedir-me para ser missionária
em Boston, nos Estados Unidos.
Fiquei surpresa, sem palavras.
O pensamento
que me veio foi “justamente pra mim”
e me alegrei, pois a proposta que me fez
me entusiasmou. E no auge do entusiasmo
eu disse sim. Obtido o visto um ano e meio
depois, em 31 de janeiro de 1962, parti para
Boston, no navio, com ir. Innocenza Cellini.
Durante o trajeto ia muitas vezes ao convés
do navio e olhava a interminável distância
de água, para além da qual se encontrava
a terra para a qual o Senhor me havia
destinado.
Nos USA a superiora provincial ainda era
Mestra Paola Cordero, que tinha pela Primeira
Mestra uma veneração ilimitada. Cada
desejo da Primeira Mestra, também não expresso,
era para ela uma ordem. A sua referência
a ela, as suas palavras, exemplos,
virtudes, ensinamentos eram constantes
nas meditações ou nas conferências que fazia
à comunidade. Podia-se dizer que todo
ambiente da Casa de Boston estivesse impregnado
dessa veneração. E eu me adaptei
a esse influxo.
Depois da morte da Primeira
Mestra, a veneração de Mestra Paula
por ela cresceu imensamente. Cada vez
que surgia um problema nas repartições de
apostolado, ela a invocava com voz estridente
“Saintly Prima Maestra, pray for us”.
Em Boston tive, também, a oportunidade
de traduzir em inglês boa parte do epistolário de Mestra Tecla e Mestra Paola. O belo
relacionamento que existia entre elas me
revelou um aspecto menos conhecido de
Mestra Tecla: a amizade.
Depois de 26 anos passados na América,
retornei à Casa geral e fui designada
ao Secretariado Internacional da Espiritualidade.
Um dos primeiros compromissos que
me foi passado pela encarregada do setor,
ir Antonietta Martini, foi de preparar para a
impressão o conjunto de conferências da
Primeira Mestra nas suas palavras originais,
que foi depois publicado em 1993, com o título Un cuor solo un’anima sola (CSAS).
Foi
um trabalho empenhativo e que exigiu muita
paciência, mas que me permitiu entrar em
maior sintonia com ela. Eu a sentia próxima
de mim e rezava por ela.
Estou convencida de que a sua intercessão
me obteve muitas graças de Deus.
Recito muitas vezes a oração pela sua beatificação.
Mas, às vezes, quando paro para
olhar o seu rosto luminoso na foto, parece-me
sentila sussurrar:
“Não se preocupe em
rezar pela minha beatificação, reze, sim,
para que todas as Filhas de São Paulo sejam
santas. Para isso ofereci a minha vida”.
Monica Maria Baviera, fsp